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Mulheres da periferia são as que mais sofrem violência doméstica

Atualizado: 28 de set. de 2022

Mapeamento inédito da Cufa mostra que mulheres da periferia são as que mais sofrem violência doméstica em Campo Grande


Texto: Carla Gavilan


Uma pesquisa inédita realizada pela Central Única das Favelas (Cufa CG) em parceria com o Instituto Sou da Paz revela, a partir de um mapeamento da cidade de Campo Grande, que as mulheres moradoras de bairros periféricos são as que mais sofrem violência doméstica na Capital.

Por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), as instituições receberam dados da Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul (Sejusp), no período de janeiro de 2021 a abril de 2022, que mostram o registro de 9.011 boletins de ocorrência de violência de gênero em Campo Grande e outros 6 de feminicídio.

“É um número expressivo e que não tínhamos visto antes em nenhuma outra divulgação. Mas, ainda assim, ficamos com lacunas importantes, como os principais bairros ou regiões aonde esses fatos ocorreram e ocorrem”, destaca a coordenadora da Cufa Campo Grande, Letícia Polidorio.

A partir dessas indagações, a Cufa CG e o Instituto Sou da Paz conseguiram, novamente via LAI, informações mais detalhadas que permitiram a produção inédita da cartografia intitulada “Mapa do Feminicídio em Campo Grande”, lançada nesta sexta-feira (08), que mostra os 19 bairros onde ocorreram os feminicídios tentados e consumados em Campo Grande no período analisado.




“Esse trabalho faz parte do nosso planejamento estratégico que prioriza, dentre outras questões, enxergar as mulheres que atendemos nas favelas de Campo Grande não apenas nas questões sociais, mas também no contexto de cidadania, segurança pública, inclusão, direitos humanos e acesso à Justiça”, pontua a coordenadora da Cufa MS, Lívia Lopes, que lidera o grupo de pesquisa.


Mapa do Feminicídio em Campo Grande

Dos 9.011 boletins de ocorrência, o estudo considerou os 8.588 de registrados na Casa da Mulher Brasileira (CMB), local com a maior quantidade de casos da Capital por ser referência no atendimento multidisciplinar à mulher vítima de violência de gênero, e de onde foram extraídos 26 casos de feminicídio na forma tentada, circunstância em que a mulher sobrevive ao ataque, e 3 feminicídios consumados, quando ocorre o óbito.



Mesmo sabendo que a violência de gênero afeta mulheres em todas as classes sociais, ao apresentar a distribuição geográfica destes casos a Cufa e o Instituto Sou da Paz evidenciam o quanto eles estão concentrados em bairros historicamente marginalizados da Capital.

“Essa pesquisa nos permite visualizar as mulheres escondidas por trás das estatísticas, dos números, dos fatos narrados nos boletins de ocorrência e de todo um sistema que perpetua a desigualdade, a exclusão e a violência de gênero. Nos possibilita confirmar que em Campo Grande os feminicídios – tentados e consumados – têm perfil e endereço: mulheres moradoras de bairros em que o acesso à creche, praças, saúde, emprego, dentre outras questões sociais importantes, são limitados”, analisa a psicóloga da Cufa, Tatiana Samper.


Em casa, à noite e em todos os dias da semana

O estudo destaca, ainda, que dos 26 casos de feminicídio na forma tentada, 15 ocorreram na própria residência das vítimas; 7 em via urbana, 2 em motel, 1 em salão de festa e 1 em acampamento Sem Terra (zona rural). Todos os feminicídios consumados registrados ocorreram nas casas das vítimas.

Na análise dos horários, 11 mulheres sofreram feminicídio tentado no período da noite; 9, de madrugada; 6, à tarde e 1 durante a manhã. Já nos casos de feminicídio consumado, todas as mulheres foram assassinadas à noite, entre às 19h20 e às 23h30.

Ao verificar os dias da semana dos fatos, a pesquisa identifica a incidência das ocorrências no sábado (7), domingo (6) e quinta-feira (5), entre as mulheres vítimas de feminicídio tentado. Nos três feminicídios consumados, dois casos foram registrados durante uma terça-feira. “É de conhecimento que há mais casos nos fins de semana e feriados, mas essa avaliação nos deixa, infelizmente, a impressão de casos de violência em toda semana. Por exemplo, há 4 registros de quinta-feira e 3 aparecerem na segunda-feira. Não achamos a diferença tão discrepante, como acreditávamos. O que é mais um alerta”, comenta Letícia.


Informação e empoderamento




Todos os bairros apontados nos mapas recebem atendimento da Cufa Campo Grande. Além das diversas ações voltadas à insegurança familiar nas favelas da Capital, como a distribuição de 46 toneladas de alimentos em 2021, a Central também mantém um programa de atividades específicas às moradoras dessas comunidades.

Um deles é o projeto do desenvolvimento do protagonismo feminino como forma de enfrentamento da violência doméstica, realizado pela psicóloga voluntária, Tatiana Samper, por meio de encontros nas favelas atendidas.

“Percebemos nas conversas, pesquisas e atendimentos, que essas mulheres almejam alternativas para romperem com essa realidade que engloba diversos tipos de violência. Atentas a essa necessidade apresentada em várias favelas, elaboramos o programa focado no empoderamento delas no território onde moram”, explica a psicóloga que já percorreu os bairros São Conrado, Bonança e Jardim Noroeste.

De acordo com a coordenadora Lívia, a partir do levantamento inédito realizado, agora, a intenção é expandir as ações e ampliar parcerias para que as mulheres dessas localidades deixem de figurar esse cenário tão triste.

“É um tema que recebe a nossa prioridade, pois mesmo com os sete anos da Lei do Feminicídio, vemos que as mulheres sul-mato-grossenses continuam sendo agredidas e mortas diariamente. Só no ano passado, foram 34 mortes em todo Estado, hoje ocupamos o 3º lugar no ranking nacional, conforme o levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). É algo terrível e, como pudemos comprovar, mais gritante ainda para as mulheres da periferia e das favelas”, pontua.






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